quinta-feira, 12 de agosto de 2010

As eleições


Por Loisa Mavignier

Eles estão em toda parte. Acordo com carro de som anunciando as virtudes de candidatos a deputado estadual e federal, governador, senador e presidente. Saio de casa e já dou de cara com dezenas deles. É jingle pra cá e jingle pra lá. Cabos eleitorais, cartazes e santinhos pra todo lado, inclusive, nos lugares mais impróprios. A cidade está escondida atrás dos imensos cartazes de candidatos. Muitos dos que estampam a sua melhor pose nas propagandas são velhas raposas da política fluminense; outros, nunca vi e nem ouvi falar. Entretanto, todos, sem exceção, se apresentam como o melhor amigo do município, desde criancinha. São do povo, pelo povo e para o povo. 

A guerra está deflagrada. Uns querendo subir de posto, outros tentando se eleger pela primeira vez, e alguns, bem mais escolados, querem ser reeleitos a qualquer custo. Na disputa pelo voto vale tudo: tapinha nas costas, abraços e apertos de mão sem nem olhar pro seu rosto, tomar cafezinho na casa de pobre, conseguir uma consulta médica pra um, a velha dentadura pra outro, um caixão para alguém que morreu, encher ônibus de "eleitores" para lotar reuniões e comícios e mostrar como são adorados, lotear cargos e apoios futuros para vereadores e prefeitos, ser solícito e sempre ter na cara um sorriso impostado. Todos ávidos por votos. E os eleitores em volta como moscas no mel. A impressão é que época de campanha eleitoral é um momento de "corrupção" generalizada. O candidato tentando corromper o eleitor, com promessas que sabemos quase nunca são cumpridas, e o eleitor querendo ser corrompido, seja pegando um bico na campanha, negociando trabalho futuro, ou qualquer outro tipo de benesses na chamada moeda de troca eleitoral.

É a festa da democracia. Uma democracia tão recente e já tem o seu lado enfadonho, o de já vi esse filme. É um replay em todas as eleições. Mesmo assim, queremos acreditar num final surpreendente e feliz. Em meio a tantas bandeiras, o eleitor entra na festa e escolhe o seu caminho, sentindo que, no momento, tem poder, ele é quem dá as cartas. Passadas as eleições tudo volta a ser como antes. Os eleitos são coroados e seguem para a Corte, e o povo continua o plebeu de sempre. É mais fácil o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad receber uma feminista norte-americana com todas as honras, do que um cidadão comum ter acesso a um candidato, depois de eleito.

No lançamento de uma campanha de um candidato a deputado federal no município, fiquei impressionada com tudo que ele prometeu fazer pela cidade, se reeleito, é claro! Olha que ele já teve tempo de sobra para fazer tudo isso depois de tantos mandatos: o município se transformará num canteiro de obras, como nunca se viu antes, os empregos choverão e todo mundo ficará mais feliz!! Exageros e mentiras à parte, depois  de outubro, a indignação tomará conta do povo de novo, até os próximos pleitos. Quando tudo, outra vez, acontecerá do mesmo jeito.

Ao ler o texto “Agosto, mês do cachorro louco” no blog da jornalista Marta Baptista - o Cá entre nós - onde ela também cita a poluição visual gerada pelas eleições em Cuiabá-MT, o deboche de alguns candidatos e a descrença de um amigo dela nos Fichas Limpas, que ele supõe, poderão se tornar fichas sujas por imposição do sistema do "toma lá, dá cá" da política nacional, fiquei pensando nesse climão eleitoral do Oiapoque ao Chuí. Estou a mais de dois mil quilômetros da Marta e tudo é tão igual lá e cá. Decididamente, não consigo entender o eleitor brasileiro, mas acredito na banda boa do eleitorado e de alguns poucos candidatos.

A história já mostrou que o exercício democrático leva inevitavelmente à evolução política e social. Um dia a gente chega lá. Quando isso acontecer não precisaremos mais ter uma lei contra os ficha sujas, eleitos e reeleitos por seus seguidores, apesar do vertiginoso enriquecimento e dos escândalos que pipocam o tempo todo na mídia nacional. A Lei Complementar 135/10 (da Ficha Limpa) já tirou da corrida eleitoral definitivamente 19 candidatos, sem possibilidade de recursos. À eles somam-se outros 169 registros indeferidos até agora pelos Tribunais nos estados. É pouco, mas é o começo. Pra citar um exemplo de como são poucos aqueles que se comprometem com a ética e a transparência dos seus atos na política, o site do ficha limpa  http://www.fichalimpa.org.br/ , até agora, só tem 34 candidatos inscritos, dos milhares que estão tentando se eleger por aí. No site só podem estar candidatos que não possuem condenação por órgão colegiado e que nunca tenham renunciado a cargo eletivo para evitar cassação.

Além disso, eles têm de prestar semanalmente as contas da campanha eleitoral. Ou seja, o famigerado Caixa 2, nem pensar. A iniciativa do site da Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci) com apoio do Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE), parece não estar vingando. Afinal, quase ninguém está disposto a mostrar a sua cara, fora dos cartazes retocados a photoshop. Mas o candidato ao governo do Rio, Fernando Paulo Nagle Gabeira (PV), o Gabeira,  está lá. Quem não deve, não teme. É isso aí candidato, mostre a sua cara!!! Se puder...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A engrenagem

Por Loisa Mavignier



Numa reunião entre amigos, uma conhecida, disparou: vcs já imaginaram a vida sem xerox? Sem fax? Sem internet? Impensável, não é? Vendo as reportagens sobre desastres provocados por aquelas enchentes no Nordeste, onde as pessoas ficaram sem água, luz, hospital, escola, transporte, comida, telefone, internet, e até sem casa, fiquei imaginando como seria voltar no tempo e ter que viver sem todos os confortos da vida contemporrânea. Todas essas coisas com as quais convivemos de forma automática, sem perceber a grande engrenagem que move tudo isso. Tremi só de pensar na possibilidade dela falhar um dia. Essa mesma pessoa, funcionária da UNB, lembrou-se ainda do dia que um colega de trabalho contou a ela que a universidade havia recebido um aparelho sensacional, que copiava tudo, até sua mão. Era xerox!! À época, a mais avançada tecnologia para facilitar a vida das pessoas. Até então, cópias só com carbono. E isso não faz tempo tanto assim. Dia-a-dia fomos incorporando essas ferramentas em nosso cotidiano e não sabemos mais viver sem elas.

No final dos anos 80, o jornal Correio do Estado, onde eu trabalhava, num fim de semana, trocou as velhas máquinas de escrever por computadores. Na segunda-feira, chegamos na redação e levamos um susto!! O editor-chefe fez questão de nos aterrorizar com a ameaça: “Quem não se adaptar ao computador será demitido”. Nos primeiros contatos parecíamos bichos-do-mato, olhando a novidade com curiosidade e também um certo temor. Passamos muitos apertos. Tivemos que conhecer a máquina na marra e, durante o aprendizado, para desespero dos redatores, era um tal de bater na tecla errada e sumir o texto quase na hora do fechamento do jornal. Também levei muitas broncas pelo vigor com que digitava os teclados. Colocava a mesma força nos dedos que usava para escrever à máquina, e foi difícil controlar o hábito da mão pesada.

Hoje acho que sofro do mal da velocidade. Até pelo hábito da profissão rastreio todos os sites de notícias várias vezes por dia. Leio os jornais impressos e chego ao cúmulo de correr da sala para o quarto para tentar assistir na televisão dois jornais ao mesmo tempo, um regional e outro nacional. Consulto meu email o tempo todo. Estou no blog, orkut, facebook e twitter. Se estou no computador fico pensando que estou perdendo algo na TV, e ainda mantenho sempre o rádio ligado. Ao me dar conta dessa compulsão pela informação, comecei a achar que é hora de desacelerar. A peneirar e aliviar minha mente da enxurrada de notícias que não me acrescentam nada. Apesar de tudo, não perdi o senso crítico. 

Me pergunto a quem interessa, por exemplo, saber que a Geisy Arruda, aquela do vestido curto na universidade, colocou silicone nos seios e foi à boate usando um vestido vermelho? Ou o que a filha da Xuxa pensa sobre a vida? Ou ainda que um ex-BB foi almoçar num restaurante japonês? Essas manchetes estão estampadas nos jornais e revistas como se fossem a descoberta para a cura da AIDS. Pois é, fico pensando nos meus coleguinhas  jornalistas que têm que escrever sobre isso. E o pior, em quem lê tais notícias. Embora só leia os textos de meu interesse nos jornais, não posso evitar de ouvir e ver as chamadas das matérias e os lides, e aquilo já fica gravado, poluindo a minha pobre massa encefálica, já tão sobrecarregada.

Numa parada, tento reviver as sensações da infância. Quando não existia TV, celular, computador, internet, email, e a energia elétrica era limitada. Após o jantar, as famílias se reuniam nas calçadas para conversar, enquanto as crianças brincavam. A informação era assimilada lentamente. Nossa, já senti um certo tédio!!! Quando a TV chegou à minha cidade, a imagem era horrível, mesmo assim, fascinava. O telefone era outra coisa horrorosa, era preciso aguardar horas por um interurbano, que só era feito pela telefonista; e para falar e ser ouvido a pessoa tinha que gritar. De lá pra cá tudo aconteceu muito rápido. E gostamos das mudanças. Não sou nostálgica e adoro o urbano, o moderno, o tecnológico. Não sinto saudades daquele tempo. Afinal, como vou viver sem meu celular e o meu computador? Sofro só de imaginar ficar sem eles. Mas também acho que é chegada a hora de repensar as nossas reais necessidades. Nunca se sabe quando a natureza vai aprontar das suas, e essa engrenagem, que parece indestrutível, falhar.