quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ando sentindo saudades de mim

"Hoje acordei com saudades de todos, da vida, da infância, enfim, de tudo que me fez bem... por isso passei por aqui pra deixar um beijão com muito carinho", a mensagem recebida de uma amiga no orkut ficou me martelando a cabeça, e pensei que também andava sentindo saudades de mim. Não pensem tratar-se de uma manifestação egocêntrica. Apenas saudades do riso fácil, das gargalhadas incontidas e quase histéricas, das lágrimas tão sinceras quanto inúteis que derramei vida afora, dos amigos que ganhei e dos que perdi e até dos inimigos sem causa. Saudade dos muitos textos que escrevi e das muitas histórias que vivi e contei por aí.

Repassando algumas páginas, tive a nítida sensação de em determinado momento ter perdido a noção do tempo. Algo, que pulei sem querer, horas que não percebi e minutos que não senti. Como um calendário sem dias e um diário sem notas. Será que o tempo se conta, ou ele apenas passa? Quando nos damos conta, ele está ali assustadoramente somado, hora por hora, minuto a minuto, dia por dia e aniversário por aniversário.

Nossa, estou chegando aos 50 e nem me dei conta. Como era boa a indiferença ao tempo que ainda viveria sem saber que seria tanto tempo assim. Antes, era como se o hoje fosse muito, muito longe. E talvez nem fosse chegar. Mas está aqui, firme e forte. Cru e nu. Aí, dá um friozinho na barriga pelo vivido e também o não vivido. Será que conseguimos contar o nosso tempo pelo tic tac do relógio? Contar os muitos sonhos de olhos abertos e aqueles quereres de olhos fechados, com o destemor dos que têm plena propriedade do seu tempo, pelo menos era o que acreditava: ser absolutamente dona do tempo, de um tempo sem datas e traços indefinidos.

Vou repassando a fita e percebo-a infinita, quase uma eternidade, embora inacabada. Intrigada com o começo, o meio, e a incógnita do fim, reviro as sensações e passagens do meu tempo. Algumas, não tão boas, estão congeladas na memória, mas sei que permanecem lá quietinhas esperando sua hora de entrar em cena, só pra relembrar, não para reviver. Outras, as positivas e cheias de afeto, acho facilmente no meu arquivo pessoal. Incontáveis historinhas e estorinhas, onde fomos, somos e seremos protagonistas, com inúmeros coadjuvantes, e, em algumas cenas, dividindo o papel principal. Uma incansável produção cinematográfica em cada um de nós. Com enredos que ganharam e perderam o Oscar, interpretações ora brilhantes e dignas de aplausos, ora densas com um quê de fatídica, de causar espanto na plateia.

Hoje, assim como a minha amiga Nelly, acordei com vontade de rever esses filmes. Alguns estão bem empoeirados, mas ainda despertam boas sensações, as mesmas de um dia. Daí, essa saudade, que não sei bem de quê. Pode até ser do tempo que ainda não vivi e das belas cenas que ainda sonho interpretar. Por isso ando com saudades de mim. E as suas fitas, como andam?

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