Por Loisa Mavignier
Eles estão em toda parte. Acordo com carro de som anunciando as virtudes de candidatos a deputado estadual e federal, governador, senador e presidente. Saio de casa e já dou de cara com dezenas deles. É jingle pra cá e jingle pra lá. Cabos eleitorais, cartazes e santinhos pra todo lado, inclusive, nos lugares mais impróprios. A cidade está escondida atrás dos imensos cartazes de candidatos. Muitos dos que estampam a sua melhor pose nas propagandas são velhas raposas da política fluminense; outros, nunca vi e nem ouvi falar. Entretanto, todos, sem exceção, se apresentam como o melhor amigo do município, desde criancinha. São do povo, pelo povo e para o povo.
A guerra está deflagrada. Uns querendo subir de posto, outros tentando se eleger pela primeira vez, e alguns, bem mais escolados, querem ser reeleitos a qualquer custo. Na disputa pelo voto vale tudo: tapinha nas costas, abraços e apertos de mão sem nem olhar pro seu rosto, tomar cafezinho na casa de pobre, conseguir uma consulta médica pra um, a velha dentadura pra outro, um caixão para alguém que morreu, encher ônibus de "eleitores" para lotar reuniões e comícios e mostrar como são adorados, lotear cargos e apoios futuros para vereadores e prefeitos, ser solícito e sempre ter na cara um sorriso impostado. Todos ávidos por votos. E os eleitores em volta como moscas no mel. A impressão é que época de campanha eleitoral é um momento de "corrupção" generalizada. O candidato tentando corromper o eleitor, com promessas que sabemos quase nunca são cumpridas, e o eleitor querendo ser corrompido, seja pegando um bico na campanha, negociando trabalho futuro, ou qualquer outro tipo de benesses na chamada moeda de troca eleitoral.
É a festa da democracia. Uma democracia tão recente e já tem o seu lado enfadonho, o de já vi esse filme. É um replay em todas as eleições. Mesmo assim, queremos acreditar num final surpreendente e feliz. Em meio a tantas bandeiras, o eleitor entra na festa e escolhe o seu caminho, sentindo que, no momento, tem poder, ele é quem dá as cartas. Passadas as eleições tudo volta a ser como antes. Os eleitos são coroados e seguem para a Corte, e o povo continua o plebeu de sempre. É mais fácil o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad receber uma feminista norte-americana com todas as honras, do que um cidadão comum ter acesso a um candidato, depois de eleito.
No lançamento de uma campanha de um candidato a deputado federal no município, fiquei impressionada com tudo que ele prometeu fazer pela cidade, se reeleito, é claro! Olha que ele já teve tempo de sobra para fazer tudo isso depois de tantos mandatos: o município se transformará num canteiro de obras, como nunca se viu antes, os empregos choverão e todo mundo ficará mais feliz!! Exageros e mentiras à parte, depois de outubro, a indignação tomará conta do povo de novo, até os próximos pleitos. Quando tudo, outra vez, acontecerá do mesmo jeito.
Ao ler o texto “Agosto, mês do cachorro louco” no blog da jornalista Marta Baptista - o Cá entre nós - onde ela também cita a poluição visual gerada pelas eleições em Cuiabá-MT, o deboche de alguns candidatos e a descrença de um amigo dela nos Fichas Limpas, que ele supõe, poderão se tornar fichas sujas por imposição do sistema do "toma lá, dá cá" da política nacional, fiquei pensando nesse climão eleitoral do Oiapoque ao Chuí. Estou a mais de dois mil quilômetros da Marta e tudo é tão igual lá e cá. Decididamente, não consigo entender o eleitor brasileiro, mas acredito na banda boa do eleitorado e de alguns poucos candidatos.
A história já mostrou que o exercício democrático leva inevitavelmente à evolução política e social. Um dia a gente chega lá. Quando isso acontecer não precisaremos mais ter uma lei contra os ficha sujas, eleitos e reeleitos por seus seguidores, apesar do vertiginoso enriquecimento e dos escândalos que pipocam o tempo todo na mídia nacional. A Lei Complementar 135/10 (da Ficha Limpa) já tirou da corrida eleitoral definitivamente 19 candidatos, sem possibilidade de recursos. À eles somam-se outros 169 registros indeferidos até agora pelos Tribunais nos estados. É pouco, mas é o começo. Pra citar um exemplo de como são poucos aqueles que se comprometem com a ética e a transparência dos seus atos na política, o site do ficha limpa http://www.fichalimpa.org.br/ , até agora, só tem 34 candidatos inscritos, dos milhares que estão tentando se eleger por aí. No site só podem estar candidatos que não possuem condenação por órgão colegiado e que nunca tenham renunciado a cargo eletivo para evitar cassação.
Além disso, eles têm de prestar semanalmente as contas da campanha eleitoral. Ou seja, o famigerado Caixa 2, nem pensar. A iniciativa do site da Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci) com apoio do Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE), parece não estar vingando. Afinal, quase ninguém está disposto a mostrar a sua cara, fora dos cartazes retocados a photoshop. Mas o candidato ao governo do Rio, Fernando Paulo Nagle Gabeira (PV), o Gabeira, está lá. Quem não deve, não teme. É isso aí candidato, mostre a sua cara!!! Se puder...
É isso aí, Lolo! A gente tem que continuar acreditando (embora às vezes fique difícil) nessa tal da democracia, fazer valer a Lei da Ficha Limpa (para não passarmos mais uma vez o recibo de trouxas) e botar a boca no trombone (nem que seja através de nossos blogs).
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