Numa reunião entre amigos, uma conhecida, disparou: vcs já imaginaram a vida sem xerox? Sem fax? Sem internet? Impensável, não é? Vendo as reportagens sobre desastres provocados por aquelas enchentes no Nordeste, onde as pessoas ficaram sem água, luz, hospital, escola, transporte, comida, telefone, internet, e até sem casa, fiquei imaginando como seria voltar no tempo e ter que viver sem todos os confortos da vida contemporrânea. Todas essas coisas com as quais convivemos de forma automática, sem perceber a grande engrenagem que move tudo isso. Tremi só de pensar na possibilidade dela falhar um dia. Essa mesma pessoa, funcionária da UNB, lembrou-se ainda do dia que um colega de trabalho contou a ela que a universidade havia recebido um aparelho sensacional, que copiava tudo, até sua mão. Era xerox!! À época, a mais avançada tecnologia para facilitar a vida das pessoas. Até então, cópias só com carbono. E isso não faz tempo tanto assim. Dia-a-dia fomos incorporando essas ferramentas em nosso cotidiano e não sabemos mais viver sem elas.
No final dos anos 80, o jornal Correio do Estado, onde eu trabalhava, num fim de semana, trocou as velhas máquinas de escrever por computadores. Na segunda-feira, chegamos na redação e levamos um susto!! O editor-chefe fez questão de nos aterrorizar com a ameaça: “Quem não se adaptar ao computador será demitido”. Nos primeiros contatos parecíamos bichos-do-mato, olhando a novidade com curiosidade e também um certo temor. Passamos muitos apertos. Tivemos que conhecer a máquina na marra e, durante o aprendizado, para desespero dos redatores, era um tal de bater na tecla errada e sumir o texto quase na hora do fechamento do jornal. Também levei muitas broncas pelo vigor com que digitava os teclados. Colocava a mesma força nos dedos que usava para escrever à máquina, e foi difícil controlar o hábito da mão pesada.
Hoje acho que sofro do mal da velocidade. Até pelo hábito da profissão rastreio todos os sites de notícias várias vezes por dia. Leio os jornais impressos e chego ao cúmulo de correr da sala para o quarto para tentar assistir na televisão dois jornais ao mesmo tempo, um regional e outro nacional. Consulto meu email o tempo todo. Estou no blog, orkut, facebook e twitter. Se estou no computador fico pensando que estou perdendo algo na TV, e ainda mantenho sempre o rádio ligado. Ao me dar conta dessa compulsão pela informação, comecei a achar que é hora de desacelerar. A peneirar e aliviar minha mente da enxurrada de notícias que não me acrescentam nada. Apesar de tudo, não perdi o senso crítico.
Me pergunto a quem interessa, por exemplo, saber que a Geisy Arruda, aquela do vestido curto na universidade, colocou silicone nos seios e foi à boate usando um vestido vermelho? Ou o que a filha da Xuxa pensa sobre a vida? Ou ainda que um ex-BB foi almoçar num restaurante japonês? Essas manchetes estão estampadas nos jornais e revistas como se fossem a descoberta para a cura da AIDS. Pois é, fico pensando nos meus coleguinhas jornalistas que têm que escrever sobre isso. E o pior, em quem lê tais notícias. Embora só leia os textos de meu interesse nos jornais, não posso evitar de ouvir e ver as chamadas das matérias e os lides, e aquilo já fica gravado, poluindo a minha pobre massa encefálica, já tão sobrecarregada.
Numa parada, tento reviver as sensações da infância. Quando não existia TV, celular, computador, internet, email, e a energia elétrica era limitada. Após o jantar, as famílias se reuniam nas calçadas para conversar, enquanto as crianças brincavam. A informação era assimilada lentamente. Nossa, já senti um certo tédio!!! Quando a TV chegou à minha cidade, a imagem era horrível, mesmo assim, fascinava. O telefone era outra coisa horrorosa, era preciso aguardar horas por um interurbano, que só era feito pela telefonista; e para falar e ser ouvido a pessoa tinha que gritar. De lá pra cá tudo aconteceu muito rápido. E gostamos das mudanças. Não sou nostálgica e adoro o urbano, o moderno, o tecnológico. Não sinto saudades daquele tempo. Afinal, como vou viver sem meu celular e o meu computador? Sofro só de imaginar ficar sem eles. Mas também acho que é chegada a hora de repensar as nossas reais necessidades. Nunca se sabe quando a natureza vai aprontar das suas, e essa engrenagem, que parece indestrutível, falhar.
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